Não importa quem somos, todos nós vivemos 12 meses, 52 semanas e 4 estações por ano, certo? Estes números nunca vão mudar, mas a maneira como os interpretamos pode variar de uma pessoa para a outra. Para os ciclistas profissionais australianos, têm um significado totalmente diferente. 95% das corridas de ciclismo do calendário acontecem na Europa, a mais de 20h de voo de distância, pelo que "casa" tem um significado diferente para eles e apenas passam alguns meses no seu país (novembro - fevereiro). Atravessam 2 verões por ano, estão longe da família e são obrigados a adaptarem-se às diferentes culturas da Europa.
Ansiosos para aprender mais sobre este estilo de vida tão singular, pedimos à Brodie Chapman, Shara Gillow e à Lauren Kitchen par nos dizerem como é. Gentilmente aceitaram partilhar connosco as suas vidas e nós, obviamente, aprendemos imenso.
É difícl viajar para a Europa para passar lá 3/4 do ano completo?
Brodie: É difícil estar assim longe do meu país e obviamente que sinto falta da minha família e amigos. Acabas por não ter muito tempo para os ver e, muito menos para sair com eles. Quando os vês, tens pouco tempo para estar com eles e tentas contar as novidades em breves momentos e, essa é a parte difícil. Mas quando me mudei para a Europa, sabia que tinha que fazer com que me sentisse em casa imediatamente. Para mim, isso significava encontrar um alojamento próprio com o meu namorado. Agora, fico ansiosa para voltar lá e passar algum tempo em Espanha. A palavra "casa" é um sentimento, são pessoas, uma sensação de algo familiar. Não precisa de ser um lugar específico, mas sim apenas onde te sentes confortável.
Shara: Tenho uma família grande cá na Austrália, 3 irmãos e 3 irmãs. Somos todos muito próximos. Durante 6 anos, tenho ido para a Europa todos o verões e estou sempre a usar Skype e Facetime. É muito difícil não os ver, mas acabas por estar focado mais nos treinos e corridas. Há momentos que sentes falta da cultura e do clima australiano, mas também adoro conhecer culturas diferentes em todo o mundo. Morei um ano na Holanda e agora moro na França.
Lauren: É difícil estar na Europa durante a grande maioria do ano. Quando era mais jovem, era mais fácil porque eu queria ir para a Europa. Agora, faço isso há mais de 10 anos. Ainda adoro fazê-lo, mas sinto mais falta da Austrália e de casa. Aprendi que preciso de ter tempo para mim e de levar um pouco de conforto australiano comigo e depois voltar à Austrália e aproveitar para recarregar as baterias para a próxima temporada.
O que é que sentes mais falta ao estar fora de casa?
Brodie: Quando estou na Europa sinto falta do clima tropical quente e húmido da Austrália. Cresci em Brisbane, onde faz muito calor o ano todo e tens tempestades incríveis no verão todas as tardes. Está muito quente e de repente tens uma tempestade fantástica. Já não assisto a uma dessas tempestadas há uns tempos. Sinto falta das tempestades, da cultura do café e da comida. A Austrália tem uma variedade enorme de alimentos, especialmente comida asiática e café realmente bom. Também sinto falta da cultura do ciclismo. Melbourne e Sydney têm uma cultura de ciclismo muito forte, onde independentemente do dia da semana tens sempre alguém com quem pedalar.
Shara: Eu adoro as praias. Moro a 25kms de Noosa Beach e Sunshine Coast e é incrível, daí sentir muita falta disso e da minha família também. Quando estou na Austrália, adoro ir nadar ou surfar para o oceano. As praias são uma grande parte do meu verão. Novembro e dezembro fazem parte de uma época fantástica, treinamos com muito bom tempo e logo depois, praia!
Lauren: Eu sou do interior da Austrália, não da cidade. Normalmente quando vou treinar apenas vejos uns dois carros, não mais do que isso, num trajecto de quase 50kms! Gosto de me sentir distante e isso é difícil de se sentir na Europa. Claro que também sinto falta da família e dos aspectos culturais. O simples tomar café de manhã é uma grande ocasião na Austrália e sinto alguma dificuldade em encontrar isso pela Europa.